terça-feira, 27 de outubro de 2009

Uma moedinha

Ônibus lotado. Homens, mulheres, crianças, idosos, donas, donos, senhoras, senhores, estudantes, professores. Todos iguais, segurando pra não cair nas sinuosas pistas simples do estado da Bahia, aproveitando o ar condicionado enquanto o calor aumenta lá fora.

Pela estrada cacau, jequitibás, jacarandás, sapucaias, cobis, ipês...o rio Cachoeira, o bairro pobre, vendedores de jambo e de guaiamum na beira da estrada, vendedores de móveis de palha, menino dando estilingada em passarinho, o matadouro abandonado em ruínas, assentamentos rurais, conversas e mais conversas, falas e mais falas se entremeando.

De repente, ao som de ônibus lotado, aparece uma sanfona. Um senhor, um chapéu, uma sanfona e uns forrós para adocicar o caminho. O som de ônibus lotado deu lugar a um sanfoneiro sorridente que em meio ao caos matinal teve a ousadia de dizer: "parem e aproveitem a vida" ao tocar algumas notas em seu instrumento.

Alguns quilômetros depois: a Universidade.

O sanfoneiro se despede, com aplausos da platéia em pé. Uns entram na Universidade, o sanfoneiro e outros poucos seguem mais uns metros para a periferia vizinha. Na Universidade, o prédio da Torre da Administração e seus vidros espelhados, um arranhacéu em terra de ninguém, refletindo a desigualdade, mas refletindo também um
pouco da arte da vida.

Sara Mortara