sexta-feira, 15 de maio de 2009

Interdisciplinaridade


Interdisciplinaridade é a integração de dois ou mais componentes curriculares na construção do conhecimento. A interdisciplinaridade surge como uma das respostas à necessidade de uma reconciliação epistemológica, processo necessário devido à fragmentação dos conhecimentos ocorrido com a revolução industrial e a necessidade de mão de obra especializada. A interdisciplinaridade buscou conciliar os conceitos pertencentes às diversas áreas do conhecimento a fim de promover avanços como a produção de novos conhecimentos ou mesmo, novas sub-áreas.

Partindo deste conceito passo a me questionar sobre a intensidade de aplicação do mesmo na pesquisa, e, a partir do momento que se esbarra no egocentrismo inerente ao pesquisador (por conta da necessidade de defender a suas idéias) se torna muito complicado...
Os problemas ambientais são transversais, logo existe a necessidade de serem abordados por grupos de trabalho que agreguem as áreas do conhecimento necessárias para o seu entendimento e para propor soluções, logo, existe a demanda pelo trabalho coletivo.

Mas qual é o grande desafio inserido nisso tudo?

O problema é que, como humanos que somos, instintivamente buscamos agrupar as coisas em compartimentos, para que tudo fique mais fácil de ser gerido. Aprendemos desde crianças que as diversas áreas do conhecimento são coisas distintas, e que aparentemente não são complementares...crescemos e acrescentamos mais compartimentos às nossas vidas, o que acaba por complicar coisas relativamente simples, como o simples fato de viver.



segunda-feira, 11 de maio de 2009

Zebras e cavalos, artigo de Marcelo Leite

“O que explica o aumento súbito da produção de ciência no país?”

Marcelo Leite é autor de "Folha Explica Darwin" (Publifolha, 2009) e do livro de ficção infantojuvenil "Fogo Verde" (Editora Ática, 2009), sobre biocombustíveis e florestas. Blog: Ciência em Dia (cienciaemdia.folha.blog.uol.com.br). E-mail: cienciaemdia.folha@uol.com.br. Artigo publicado na “Folha de SP”:

Atul Gawande, médico e ensaísta americano que brilha nas páginas da revista "The New Yorker", conta em seu livro "Complicações" -já elogiado aqui- que professores de escolas médicas de seu país repetem com frequência um dito sobre quadrúpedes. Algo assim: "Se você ouvir um tropel, pense primeiro em cavalos, não em zebras".

O sábio conselho se aplica em geral à arte do diagnóstico. Diante de certa configuração de sintomas, o médico em formação deve cogitar primeiro as doenças e condições mais comuns que possam explicá-la. Mais ou menos o contrário do que faz o Dr. House, da imperdível série de TV.

Quando li que o Brasil tinha saltado da 15ª para a 13ª posição no ranking de produção científica mundial, logo pensei: deu zebra. Mesmo respondendo por meros 2,12% dos artigos publicados em periódicos científicos indexados (de primeira linha), é um avanço tão sensacional quanto os diagnósticos improváveis de House.

Na divulgação dos dados, o ministro da Educação, Fernando Haddad, se empolgou. Disse que em pouco tempo, se mantiver o ritmo, o Brasil poderá chegar entre os dez primeiros produtores de conhecimento científico do planeta.

"O indicador mostra o esforço nacional e o vigor das universidades federais", afirmou, puxando a sardinha para a sua brasa. Citou a contratação, por concurso, de 10 mil jovens doutores para dar aulas nessas instituições, em todos os cantos do Brasil. E prometeu 17 mil contratações até o final do mandato do presidente Lula.

Tomara. Não dá para não torcer pelo país nesse campo em que só tomamos lavadas. Não, pelo menos, diante do placar espantoso: 30.451 artigos publicados em 2008, contra 19.436 no ano anterior. Um crescimento de 56%. Fantástico.

No fundo da mente, porém, ainda ressoavam alguns cascos. Talvez fossem cavalos. Ou quem sabe outro tipo de equino?

Aumento de 56% num único ano é muita coisa. Ainda mais numa atividade de transformação tão lenta quanto a pesquisa científica. O tipo do dado que aciona o detector de asneiras ("bullshit detector", como dizem os americanos) de qualquer estatístico, até de colunistas ignorantes dos meandros dessa disciplina cruel.

Uma hipótese plausível para ajudar a explicar o desempenho que entusiasmou o ministro é a de que tenha mudado a base utilizada para medir a produtividade científica, da Web of Science. Uma consulta a sua página na internet revela que a empresa proprietária (Thomson Reuters) investe numa política de ampliar a abrangência dos periódicos indexados, com a incorporação de mais de 1.200 títulos de relevância regional.

Nesse processo, o Brasil foi um dos países que mais aumentaram sua representação na Web of Science. De três dezenas de periódicos há dois anos, contava no ano passado com 103 na base de dados. Mais revistas científicas brasileiras acompanhadas, mais artigos nacionais. Aumentou a rede, não necessariamente o cardume.

A mudança da base, por outro lado, pode não explicar todo o avanço da produção científica brasileira, o que só seria verificável com um exame mais minucioso. Não invalida, tampouco, toda a excitação ministerial. A simples inclusão de mais revistas brasileiras no radar bibliográfico internacional por si própria já constitui uma boa notícia.

A tentação de torcer por uma zebra é quase irresistível, não há dúvida. Mas existem muito mais cavalos sobre a Terra do que pode sonhar a nossa vã cienciometria.(Folha de SP, 10/5)

Enviado por: Celso Gaspar Litholdo Jr.